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Sou uma mulher, não-rica, de várias origens, que nasceu parda e hoje tem cor preta. Odeio rótulos e estereótipos. Luto pela leitura e boa educação do país. Além disso, desejo ser valorizada como agente de transformação numa sociedade que tem como principal tarefa discriminar aquele que é diferente.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Boletim do carnaval: um olhar além das máscaras

O objetivo deste texto não é apenas mostrar o lado positivo do carnaval e sim fazer um apanhado que demonstre que nem só de alegria vive o carnaval de Salvador e para tanto apontarei algumas informações que poderão aprofundar nos links que serão disponibilizados.

Nas proximidades do carnaval começam as preparações e a cidade aos pouco se transforma, as ruas ganham uma decoração com o tema da manifestação que esse ano foi Percussão. Alguns locais vão ganhando andaimes que permitirão a montagem de camarotes, as arquibancadas com preços não tão populares são montadas praticamente faltando menos de duas semanas.

Em alguns locais como a Barra, a festa começa desde a quarta-feira e vai até a próxima quarta-feira (Cinzas). Mas oficialmente no circuito do Campo Grande (Osmar) a festa começa na quinta-feira com a entrega das chaves da cidade pelo prefeito ao Rei Momo que esse ano voltou a ser um homem gordo, retornando à tradição. Nesse mesmo dia desfilam os grupos de samba e pagode em blocos tradicionais como Alerta Geral, Amor e Paixão.

Durante os seis dias a mistura de ritmos faz com que a festa atenda a gostos diferentes e entre os eles temos: sertanejo, samba, pagode, axé, música eletrônica, forró, além dos palcos de rock em alguns bairros.

O carnaval gera renda para aproximadamente 93 mil moradores, mas essa renda não é suficiente para atender as necessidades básicas desses trabalhadores, já que em sua maioria são pais e mães com muitos filhos que se dividem em trabalhos informais que não geram tanto retorno, tais como os vendedores ambulantes que apesar do faturamento com a venda de bebidas e comidas não os tornam tão ricos quanto os empresários donos de blocos e camarotes.

Os catadores de latinha apesar de realizarem um trabalho que promove a reciclagem de um material que degrada o meio-ambiente, como já foi abordado em um post anterior, executam o trabalho sem nenhuma organização que garantam a proteção, cuidados com a higiene e saúde. Além disso, a exploração infantil ainda está presente nos trechos da folia como resultado de uma educação insipiente, falta de emprego para os pais e responsáveis dessas crianças.

A atividade dos cordeiros não é regulamentada pelo Ministério do Trabalho e é desenvolvida por pessoas humildes que garantem a segurança dos associados, segurando a corda e muitas vezes sendo provocados por foliões que vão para as ruas a fim de provocar brigas, porém o valor que eles ganham é irrisório perante o que é cobrado pelos abadás, ou seja, as condições de trabalho e a remuneração não compensam.

A luta por melhores condições continua e de acordo com a Assindcorda, os cordeiros querem receber R$ 50 por diária, adicional de periculosidade e insalubridade e o recolhimento de INSS para cada trabalhador. A entidade também quer ficar responsável pelo cadastramento e contratação dos candidatos ao posto e promete maior rigor na seleção, treinamento e crachá de identificação para cada contratado. A Associação dos Blocos e Trios diz que não existem condições para atender as propostas, pois os blocos argumentam que a profissão não é regulamentada e os prestadores do serviço não são comprometidos. 

O balanço parcial da Secretaria de Segurança Pública (SSP) revela que o carnaval 2011 manteve o ritmo de tranquilidade e paz e algumas ocorrências tiveram números menores em relação ao ano passado. Isso pode demonstrar uma maior eficiência da categoria, já que contaram com a ajuda da tecnologia de 120 câmeras (fixas e móveis) que proporcionaram maior agilidade para os 23 mil policiais, entre militares, civis, integrantes do Departamento da Polícia Técnica e do Corpo de Bombeiros, porém ainda não há o que comemorar, pois os números de furtos, roubos, agressões ainda são altos. Além disso, muitos foliões saem com o intuito de vandalizar e criar brigas, então falta conscientização desse povo não apenas no carnaval, mas em todos os momentos.

Mas o tratamento que é dado aos foliões nativos pelos policiais não é sinônimo de educação já que a passagem deles é marcada por empurrões e um singelo “sai da frente”, para os turistas servem até como seguranças particulares, pedindo licença e seguindo-os até os camarotes ou blocos. Se o tratamento aos soteropolitanos fosse diferente seria estranho e, claro, não é que os turistas não mereçam ser tratados com respeito, mas sim que todos os foliões merecem.

Durante os dias de festa a cidade se transforma e as ruas são cobertas por tapetes de lixos, apesar de a Limpurb recolher toneladas que vão desde materiais promocionais até recipientes de bebidas, além da quantidade de urina deixada por foliões que não tem a menor educação, pois estes com certeza não fariam isso na porta de casa e isso prejudica aqueles que catam latinhas sem nenhuma proteção.

Os banheiros químicos são mal utilizados, pois muitos não acertam o recipiente adequado, o local é abafado e obviamente não tem espaço para higienização o que torna o ambiente propício a proliferações de doenças.

Muitos alimentos pela Vigilância Sanitária foram apreendidos tanto entre os ambulantes quanto nos camarotes e carros de apoio devido a má conservação dos produtos ou procedência não identificada o que poderia causar riscos de intoxicações.

Os postos de saúde receberam muitas vítimas de agressões físicas, intoxicações e cefaléia, uma prova que a utilização de bebidas e entorpecentes e a violência são os “pratos principais” dessa festa que deveria ser sinônimo de alegria. Mas esses mesmos postos em dias normais não atendem com tanta eficiência os pacientes que precisam de um atendimento simples ou mais complicados e muitos morrem por falta de atendimento.

A discriminação racial é um ponto que merece destaque já que de acordo com o Observatório da Discriminação Racial, da Violência contra a Mulher e Homofobia foram, aproximadamente, 320 ocorrências, sendo 154 de racismo, 83 de homofobia e 83 de agressão.

Uma das vítimas do racismo foi o cantor Márcio Victor que foi agredido por um empresário que se encontrava em um camarote, essa ocorrência demonstra que esse crime ainda é praticado contra cidadãos que realizam seus trabalhos, pagam impostos e, portanto, merecem ser tratados com respeito.

A homofobia deve ser também combatida sem nenhuma sombra de dúvida, pois se trata de seres humanos que merecem respeito não apenas pela opção sexual, mas por aquilo que podem desenvolver para mudar a atitude das pessoas, afinal ninguém deve ser julgado por suas escolhas pessoais e sim pelas atrocidades que são cometidas por pessoas que deveriam cuidar dos interesses do povo. 

A esperança é que os próximos carnavais não sejam palcos dos diversos tipos de discriminação, violência, falta de educação e outras atitudes que interferem nos direitos humanos.

Como uma mulher, negra e não-rica luto para ganhar meu espaço nessa sociedade, onde sou triplamente discriminada seja com uma palavra ou um simples olhar “torto”.

Admirar o trabalho de alguém como pessoa vai além da pigmentação da pele. Cor não é nada, conteúdo é tudo!!!


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2 comentários:

  1. oi eu não poderia deixar de comentar,seu post não ficou bom,ficou ótimo, maravilhoso,pq não dizer que ficou perfect.você tem o dom de se expressar através de textos. vejo em você uma garota de futuro brilhante. continue assim e se tiver que mudar que seja pra melhor, um beijo da sua mais nova fã Saionara Ferreira

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  2. Muito obrigadaaaaaaaaaa!!! Saiba que seu incentivo é a válvula propulsora para que eu continue meus projetos.

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